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Workshop discute a relação entre linguagem, desigualdades raciais e catástrofes climáticas

Joana Plaza Pinto (FL/UFG/CNPq)

O workshop Semiotics after Geontopower ocorreu de 15 a 19 de abril de 2024, de 9h às 17h, no auditório da Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Goiás, organizado pelos grupos de pesquisa Perspectivas Linguísticas Contemporâneas e Caroá.

Este workshop foi planejado para construir uma crítica sobre a cumplicidade da linguagem na história dos processos de violências nas desigualdades raciais, na crise climática e nos conflitos articulados no capitalismo do século XXI, presentes e ancestrais, das formas mais diversas de produção de sentido, dos modos sociais do tempo (tense/time), das formas narrativas, das figurações gramaticais, das semioses implicadas tanto nas separações quanto nos emaranhamentos na distribuição desigual dos efeitos de poder nos corpos, nos objetos, nos territórios, no planeta.

O trabalho de Elizabeth Povinelli (Columbia University) inspirou essa discussão. Durante cinco dias, foram discutidos temas atuais pela lente de seu trabalho inovador já publicado, debatendo e colocando questões que impulsionam as pesquisas dos grupos de pesquisa envolvidos e as interpretações da obra de Povinelli. Também ocorreu a chance única de ouvir os primeiros textos do seu projeto em andamento “Precisamos de uma semiótica depois do geontopoder?” (Do We Need a Semiotics After Geontopower?).

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Elizabeth Povinelli na exposição do workshop, 15/04/24 e 16/04/24, respectivamente. Fonte: Álbum do evento.

 

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Elizabeth Povinelli explicando Charles Peirce durante workshop, 16/04/2024. Fonte: Álbum do evento.

Na realização do evento, o workshop recebeu os apoios fundamentais dos Programas de Pós-graduação em Letras e Linguística e em Antropologia Social e do Centro de Línguas da UFG, sendo suas atividades integrantes da disciplina Seminários sobre Linguagem, sociedade e cultura, sob as docentes Joana Plaza Pinto (Bolsista PQ-1D CNPq/PPGLL) e Suzane de Alencar Vieira (PPGAS), creditada aos dois programas parceiros no evento.

O evento recebeu o apoio financeiro da Fapeg (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás, Chamada Pública 03/2023 – Realização de Eventos), do Programa de Excelência da CAPES (PROEX) do PPG Letras e Linguística do Programa de Internacionalização da FAPEG/projeto PPGAS e do Centro de Línguas.

O programa do workshop se organizou em três tipos de atividades, com a intenção de promover o diálogo e o intercâmbio dinâmicos: durante as 4 primeiras manhãs, Elizabeth Povinelli nos apresentou seus argumentos desenvolvidos no projeto em andamento; durante as 4 primeiras tardes, pesquisadoras e pesquisadores de diferentes universidades e diferentes áreas do conhecimento debateram suas leituras e questões sobre problemas e argumentos presentes na vasta obra de Elizabeth Povinelli.

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Além da convidada, a mesa de abertura do workshop contou com a presença das coordenadoras do evento e dos programas envolvidos, dia 15/04/2024. Fonte: Álbum do evento.

 

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Mesa da tarde de 15/04 contou com pesquisadoras e pesquisadores Gleiton Bonfante (UFF), Amanda Diniz (UFG), Guilherme Sá (UnB) e Indira Caballero (UFG).

 

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Mesa da tarde de 16/04 contou com pesquisadoras Cataria Morawska (UFSCar), Suzane de Alencar Vieira (UFG) e Izabel Martinez (UNAM/México).

 

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Mesa da tarde de 17/04 contou com pesquisadoras e pesquisadores Daniel Silva (Unicamp), Emílio Robledo (UnB), Joana Plaza Pinto (UFG) e Ana Luiza Dias (UFG).

 

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Mesa da tarde de 18/04 contou com pesquisadoras e pesquisadores Amanda Horta (UFSCar), Antônio Carlos Benites (UFG), Carolina Cantarino (Unicamp), Nicole Soares (UFES), Thais Elizabeth Batista (UFG).

 

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Povinelli em diálogo com o doutorando guarani-kaiowá Antônio Carlos Benites (PPGAS/UFG).

 

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Além de participar do debate com Povinelli, Antônio Carlos Benites, doutorando do PPGAS/UFG, promoveu uma dança guarani-kaiowá na quinta-feira, dia 18/04, para trazer boas energias ao workshop.

 

Na quarta-feira, dia 17/04, depois do debate da tarde, tivemos o lançamento do livro Geontologias, primeiro livro de E. Povinelli inteiramente traduzido para o português e publicado pela Editora Ubu.

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O lançamento do livro Geontologias (Ubu, 2023), de Elizabeth Povinelli, contou também com a exposição do livro Entre risos e perigos (Editora Cânone, 2023), de Suzane de Alencar Vieira, coordenadora do PPGAS e vice-coordenadora do workshop.

 

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No lançamento do livro, dia 17/04/2024, Suzane de Alencar Vieira, vice-coordenadora do workshop, Elizabeth Povinelli, e Joana Plaza Pinto, coordenadora do workshop.

 

Finalmente, na sexta-feira de manhã, tivemos a exibição de dois filmes do Karrabing Film Collective, do qual Povinelli faz parte, o Night Fishing with Ancestors (Pesca Noturna com Ancestrais) de 2023, e The Mermaids, or Aiden in Wonderland (As sereias, ou Aiden no País das Maravilhas) de 2018.

Mais de 180 pessoas estiveram presentes no workshop durante a semana. O debate ocorrido durante a semana foi reconhecido por todas as pessoas presentes como avançado, contemporâneo e interdisciplinar. Tanto a convidada quanto a audiência teceram muitos elogios à alta qualidade do evento. Não só recebemos uma convidada altamente qualificada e com prestígio internacional, como tivemos na plateia uma audiência do mesmo calibre - docentes e pesquisadoras do IFG, da PUC-GO, PUC-Rio, UEG, UEMS, UFES, UFF, UFRJ, UFRN, UFSC, UFSCar, UnB, UnDF, Unicamp, Unifesp, Unilab, USP, além de docentes da Texas University (EUA), da Dutch Art Institute (Alemanha), da Universidad Autónoma de Mexico (México) e da Universidade Nova Lisboa (Portugal). Também recebemos docentes e discentes da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, além de docentes e discentes da nossa Faculdade de Letras.

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Auditório no início da sessão de abertura, dia 15/04/2024. Fonte: Álbum do evento.

 

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Auditório na sessão de encerramento, dia 19/04/2024. Fonte: Álbum do evento.

 

Elizabeth Povinelli tem uma biografia excepcional de pensadora e artista e destacamos alguns pontos na sua trajetória: ela é antropóloga que convive com a comunidade aborígene de Belyuen da região costeira no noroeste da Austrália, há mais de 40 anos, quando ela inicialmente estava interessada nas ligações entre o poder e a autoridade política das mulheres e os seus papéis nas economias locais e nacionais. Ela é cineasta que co-fundou o Karrabing Film Collective com colegas da mesma comunidade. E também é uma artista, uma desenhista original e com um estilo inconfundível, tendo exibido suas obras em várias galerias, e incluído na sua produção intelectual desenhos e grafismos que constituem seus argumentos (ainda mais evidente no livro e no filme The Inheritance, A Herança), um debate crítico inovador sobre ancestralidade e relacionalidade, sedimentações materiais do passado ausente em nosso presente que revela a história na política e na ética da herdabilidade.

Elizabeth Povinelli ocupa a prestigiosa cadeira Franz Boas no Departamento de Antropologia da Columbia University (Nova York, EUA), onde também foi Diretora do Institute for Research on Women and Gender e foi co-diretora do Centre for the Studio for Law and Culture. Ela recebeu seu doutorado em Antropologia pela Universidade de Yale em 1991. Foi editora da revista acadêmica Public Culture.

O trabalho de Povinelli se concentra no desenvolvimento de uma teoria crítica do liberalismo tardio, animada por um envolvimento com as tradições do pragmatismo americano e da crítica imanente continental e fundamentada na circulação de valores, materialidades e sociabilidades dentro dos liberalismos coloniais.

Seus dois primeiros livros examinaram o governo do Outro nas colônias liberais tardias, a partir da perspectiva da política de reconhecimento. O enfoque desses livros foram os impasses dos sistemas liberais de direito e valor à medida que se defrontavam com os mundos indígenas australianos, e os efeitos desses impasses no desenvolvimento da cultura legal e pública na Austrália. Seus dois livros posteriores destacam as formações do Antropoceno Liberal Tardio a partir da ótica da intimidade, incorporação e forma narrativa. Os seus livros mais recentes exploram a governança da existência, identidade política e o problema da ancestralidade.

O livro Geontologias (publicado em português pela Ubu) discute o modo de poder que regula a distinção entre vida e não-vida na cicatriz do imaginário do carbono. Este livro recebeu o Prêmio Lionel Trilling de 2017, e os filmes do Karrabing Film Collective também foram premiados, ganharam o Visible Award 2015 e o Cinema Nova Award 2015 na categoria de melhor curta-metragem de ficção, dentre outros prêmios. Recentemente, o Karrabing Collective Film recebeu o prêmio Eye Prize 2021 da premiação Eye Filmmuseum Amsterdam.

O evento contou com interpretação simultânea inglês-português da equipe Traductia Áudio e Eventos, fundamental para a ampliação da participação e do debate com a convidada.

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Equipe da Traductia Áudio e Eventos com Elizabeth Povinelli, 19/04/2024. Fonte: Álbum do evento.

 

As artes do material de divulgação são um trabalho que conta com a fotografia do antropólogo Jean Pierre Pierote e o design de Cássia Oliveira.